Código de Hamurabi: elaboração, princípios e legado jurídico

Descubra o Código de Hamurabi, um marco do direito na Mesopotâmia antiga, seus princípios jurídicos e legado para as leis modernas.

O Código de Hamurabi é um dos mais antigos conjuntos de leis escritos que chegaram até nós, datado de cerca de 1754 a.C., durante o reinado de Hamurabi, sexto monarca da dinastia amorita na Babilônia. Este compêndio legal, esculpido em uma estela de basalto negro, consolidou normas que abrangiam desde comércio e família até punições e propriedade. Para quem deseja aprofundar-se nos detalhes históricos e jurídicos, existe um guia completo sobre o Código de Hamurabi com traduções e análises modernas.

Contexto histórico do Império Babilônico

Na virada do segundo milênio a.C., a Mesopotâmia experimentava intensas transformações políticas e culturais. A cidade da Babilônia, estrategicamente localizada às margens do rio Eufrates, emergiu como potência regional, abrigando centros de comércio, templos e arquivos de cuneiforme. Sob o domínio amorita, consolidou-se uma administração eficiente, capaz de coordenar irrigação, tributação e justiça de maneira centralizada. Também foi nesse período que se desenvolveram mecanismos financeiros, retratados em trabalhos como o sistema financeiro na Mesopotâmia antiga, onde transações de grãos, prata e terrenos eram amplamente documentadas.

A ascensão de Hammurabi

Hammurabi ascendeu ao trono em torno de 1792 a.C., numa Babilônia ainda modesta. Em menos de quarenta anos, expandiu fronteiras por campanhas militares que subjugaram povos vizinhos, como o reino de Eshnunna, Mari e Elam. A consolidação territorial conferiu-lhe autoridade para impor uniformidade legal a diferentes grupos étnicos e sociais, tornando o código uma ferramenta de coesão e controle.

A Babilônia no século XVIII a.C.

Além do poder militar, a Babilônia floresceu como polo cultural. Arquitetos erigiram zigurates, artesãos produziram joias de ouro e escribas registraram tratados em tabletes de argila. As leis de Hamurabi circulavam não apenas em monumentos públicos, mas também em cópias menores, distribuídas por distritos e vilas para orientar juízes locais.

Elaboração do Código de Hamurabi

O processo de codificação envolveu a compilação de costumes, decretos reais e decisões judiciais já existentes. Escribas especializados em cuneiforme, formados em instituições como as Escolas de escribas na Mesopotâmia Antiga, transcreveram minuciosamente cada cláusula. Os textos foram inicialmente redigidos em tabletes de argila para revisão, antes de serem gravados de forma permanente na estela de basalto.

Materiais e métodos de registro

O suporte principal, uma estela com mais de dois metros de altura, foi trabalhado com ferramentas de bronze e cascalho abrasivo. O basalto, resistente à erosão, garantiu a durabilidade da inscrição. A superfície polida permitiu gravações profundas e legíveis, mesmo para gerações futuras.

Estrutura do código

O código é dividido em prólogo, 282 artigos e epílogo. O prólogo enaltece Hammurabi como escolhido pelos deuses Marduk, garantindo legitimidade divina. Os artigos abordam temas como penas para furtos, responsabilidade profissional, concessão de empréstimos e regras para aluguel de terrenos. O epílogo alerta sobre as consequências de modificar as leis, reforçando a sacralidade do texto.

Princípios jurídicos fundamentais

As leis de Hammurabi estabeleceram bases que influenciaram sistemas jurídicos subsequentes. Entre elas, o princípio de reciprocidade na punição, a distinção de penas conforme classe social e o papel do Estado na defesa do mais fraco. Em paralelo, observava-se o uso de calendários para determinar datas de julgamento, conforme estudos sobre calendários na Mesopotâmia Antiga, indicando como o tempo ritual e cívico se relacionava à justiça.

Olho por olho, dente por dente

Este princípio, conhecido como talion, prescrevia que a punição deveria ter proporção direta ao dano causado. Entretanto, a aplicação variava se o ofensor e a vítima eram de classes sociais diferentes, levando em conta o status do escravo, livre ou nobre.

Classificação social e aplicação da justiça

O código distingue três categorias: awîlum (livres proprietários), mār awîlim (dependentes ou plebeus) e wardum (escravos). Cada grupo tinha direitos e deveres específicos, e as indenizações financeiras eram ajustadas conforme o status, consolidando uma justiça rígida, mas também previsível.

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Aplicação e funcionamento no cotidiano mesopotâmico

As leis eram aplicadas em tribunais locais, compostos por juízes nomeados pela coroa. As audiências ocorriam em edifícios públicos, muitas vezes próximos a templos, conferindo caráter sagrado aos procedimentos. Testemunhas eram convocadas, e contratos escritos em tabletes de argila complementavam as evidências apresentadas.

Cortes e julgamentos

Juízes presidiam as sessões, muitas vezes com apoio de escribas que registravam depoimentos. Documentos oficiais, como escrituras e contratos, serviam de prova. As decisões eram públicas, e sentenças eram afixadas em locais de grande circulação para desestimular infrações.

Execução das punições

Punições incluíam multas, trabalho forçado, amputações e, em casos graves, morte. A execução era supervisionada por oficiais reais, que asseguravam o cumprimento rigoroso das leis e demonstravam o poder do soberano.

Descoberta e decifração moderna

A estela de Hamurabi foi descoberta em 1901 por arqueólogos franceses no sítio de Susa, no Irã atual, onde havia sido levada como troféu por invasores elamitas. Transladada para o Museu do Louvre, foi estudada exaustivamente. No século XX, linguistas como François Thureau-Dangin e Jean-Vincent Scheil realizaram as primeiras traduções completas.

Escavação e localização da estela

Localizada em camadas de ruínas, a estela chamou atenção pelo tamanho e qualidade da pedra. Os arqueólogos identificaram a inscrição cuneiforme e imediatamente procuraram paralelos em tabletes da Babilônia para confirmar a autoria.

Decifração do cuneiforme

Decifrar o cuneiforme babilônico exigiu comparação com inscrições acádias e hititas. Graças a A. H. Sayce e outros pioneiros, cada símbolo foi correlacionado a palavras conhecidas, permitindo reconstruir o sentido original dos artigos.

Influência e legado

O Código de Hamurabi influenciou sistemas legais no Oriente Médio por séculos, sendo referência para as leis assírias e persas. Seu princípio de justiça proporcional ecoou em códigos judaicos, gregos e romanos. A ideia de que o Estado deveria garantir a ordem e punir infrações consolidou-se em diversos impérios.

Impacto no direito posterior

Elementos do código podem ser identificados em leis mosaicas, no Direito Romano e, indiretamente, nos sistemas jurídicos contemporâneos que valorizam a igualdade formal perante a lei e a proporcionalidade das penas.

Recepção moderna e estudos arqueológicos

Arqueólogos e historiadores continuam reinterpretando cada artigo, contextualizando-os socialmente. Novas descobertas de tabletes fornecem nuances das práticas cotidianas e das relações de poder na Mesopotâmia antiga.

Conclusão

O Código de Hamurabi permanece como um testemunho impressionante da sofisticação jurídica alcançada na Mesopotâmia antiga. Seus princípios de reciprocidade, aplicação diferenciada e registro público das leis foram inovações que moldaram a trajetória do direito ocidental e oriental. Ao estudar este monumento, compreendemos não só as normas de um povo milenar, mas também as bases sobre as quais se ergueram os sistemas jurídicos que regem nossas sociedades atuais.


Arthur Valente
Arthur Valente
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