Inscrições Trilingues de Behistun: decifração e importância histórica

As Inscrições Trilingues de Behistun revolucionaram a compreensão do cuneiforme e revelaram segredos do Império Aquemênida. Descubra sua história e legado.

Inscrições Trilingues de Behistun: decifração e importância histórica

As Inscrições Trilingues de Behistun, esculpidas no maciço calcário do Monte Behistun, no atual Irã, constituem um dos achados arqueológicos mais relevantes para o estudo do cuneiforme e da história do Império Aquemênida. Registradas em persa antigo, elamita e babilônico, essas esculturas monumentais foram o ponto de partida para a decifração de antigas línguas do Oriente Próximo. Para quem deseja aprofundar seu conhecimento epigráfico, recomenda-se conferir obras especializadas em epigrafia persa, disponíveis em diversas livrarias on-line, como Inscrições de Behistun: guia completo.

Contexto Histórico do Império Aquemênida

O Império Aquemênida (550–330 a.C.) destacou-se por sua extensão territorial, abrangendo da Ásia Menor até o Vale do Indo, e por sua administração inovadora. Fundado por Ciro II, o Grande, o império consolidou-se através de campanhas militares estratégicas e do estabelecimento de uma rede de satrapias capazes de articular um vasto aparato burocrático. Tal estrutura administrativa influenciou inclusive governos locais de sociedades anteriores, como as formas de centralização de poder que já podiam ser observadas em civilizações mesopotâmicas como a de Sargão da Acádia, cujas conquistas e método de governo são discutidos no artigo sobre Sargão da Acádia.

A consolidação do império sob Dario I (522–486 a.C.) transformou ainda mais esse aparato, promovendo obras de infraestrutura como estradas, correios e sistemas de irrigação. Paralelamente, construiu monumentos oficiais, entre os quais se destaca a inscrição de Behistun, destinada a legitimar seu reinado e escrutinar narrativas políticas. A escolha de três línguas e sistemas de escrita na mesma parede rochosa refletia a diversidade étnica e linguística do império, assegurando que a mensagem real chegasse a súditos e aliados de diferentes regiões e tradições culturais.

Descoberta e Localização das Inscrições de Behistun

Localizadas na encosta do Monte Behistun, na antiga região de Parsa, as inscrições permaneciam conhecidas apenas por viajantes e mercadores locais até o século XVII, quando europeus começaram a relatar sua existência em relatos de viagem. A escalada para observá-las era perigosa e exigia guias persas experientes familiarizados com as trilhas íngremes. A primeira descrição detalhada por um ocidental veio com o diplomata e viajante inglês Robert Sherley, em 1598, mas apenas no início do século XIX as inscrições ganharam atenção acadêmica.

O local possui três seções principais: o relevo central com Dario I de pé sobre inimigos derrotados; a coluna trilingue à direita; e painéis menores com textos complementares. A combinação de relevo escultórico e epígrafe em três idiomas conferiu ao monumento um caráter único no mundo antigo, similar, em certa medida, à monumentalidade e importância histórica de estruturas como a Zigurate de Ur, embora com objetivo diferente.

Estrutura Linguística e Escrita

Cuneiforme Persa e Elamita

O persa antigo, registrado em cuneiforme simplificado, é a língua que aparece em maior destaque no painel de Behistun. Com aproximadamente 375 sinais distintos, esse sistema reduziu a complexidade presente em outras variantes do cuneiforme, facilitando a disseminação da mensagem real. As inscrições em persa antigo são divididas em 414 linhas, descrevendo a ascensão de Dario ao trono, narrando supostas rebeliões e afirmando a vindicação divina do rei.

Ao lado, o elamita tradicional, já usado em administrações persas para comunicação interna com funcionários de origem elamita, contém 260 linhas de texto que reproduzem o conteúdo persa. O elamita é mais complexo em termos de signes e morfologia, exigindo do leitor maior domínio de formas gramaticais. A dualidade dessas línguas oferece um contraste didático entre a economia de sinais do persa e a riqueza morfológica do elamita.

Cuneiforme Babilônico

Com 112 linhas, o texto babilônico, redigido em acádio, apresenta maior proximidade com inscrições sumérias e assírias anteriores. Essa versão era voltada para as elites cultivadas da Mesopotâmia, acostumadas ao acádio como língua diplomática e literária. O uso do babilônico funcionava como ponte entre as tradições políticas mesopotâmicas e a autoridade persa, mostrando respeito pelas convenções locais.

A coexistência desses três sistemas de escrita no mesmo monumento facilitou a comparação entre sinais e estruturas linguísticas, e foi fundamental para decifradores modernos entenderem o alfabeto persa e, subsequentemente, outros sistemas de escrita cuneiforme.

Decifração Moderna

James Brendan Rawlinson e a metodologia comparativa

O trabalho pioneiro de James Henry Rawlinson na década de 1830 lançou as bases para decifração das inscrições de Behistun. Inspirado nos métodos de Jean-François Champollion, que havia decifrado a Pedra de Roseta, Rawlinson escalou o Monte Behistun em 1835 para copiar as inscrições em esquemas e calcos. Observando repetições de nomes próprios e construções gramaticais semelhantes, estabeleceu equivalências entre sinais persas e aqueles conhecidos no acádio.

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O uso de versões paralelas do texto permitiu a identificação de palavras-chave, como o nome DARIUS (em persa antigo) e “rei”, facilitando o reconhecimento de sinais específicos. A comparação entre as três línguas em colunas contíguas assemelhou-se ao trabalho com a Oráculo de Delfos, onde diversos relatos ajudavam a interpretar profecias fragmentadas.

Contribuições subsequentes e consolidação do conhecimento

Após Rawlinson, estudiosos como Edward Hincks, Jules Oppert e William H. Fox Talbot aprimoraram a decifração, reconhecendo flexões verbais e estruturas sintáticas. Sua colaboração internacional resultou em dicionários e gramáticas do persa antigo e acádio. Ao final do século XIX, a compreensão do cuneiforme havia se espalhado pelas principais universidades europeias, transformando Behistun em um referência obrigatória para epigrafistas.

As técnicas de decifração desenvolvidas inspiraram estudos em outras inscrições cuneiformes, permitindo o avanço das pesquisas mesopotâmicas. A metodologia comparativa de textos bilíngues e trilingues aplicada em Behistun solidificou-se como padrão acadêmico para qualquer nova descoberta epigráfica.

Importância Arqueológica e Histórica

As Inscrições de Behistun representam um raro caso de monumento imperial projetado para comunicação simultânea a públicos diversos. Enquanto monumentos egípcios, como obeliscos e hieróglifos, também transmitiam mensagens oficiais, Behistun destaca-se pela variedade linguística e pela clareza da narrativa histórica. Sua descoberta promoveu uma verdadeira revolução epigráfica e histórica, pois revelou dados precisos sobre a cronologia, genealogia e eventos do Império Aquemênida.

Arqueologicamente, o sítio proporcionou insights sobre técnicas de escultura em rocha e preservação de relevos em face a intempéries. Pesquisas recentes utilizam escaneamento 3D para mapear fendas e restaurar partes erodidas, permitindo leitura completa do texto sem danificar o monumento. A inscrição também oferece dados paleográficos, como a evolução dos sinais cuneiformes e sua padronização imperial.

Legado e Influência na Epigrafia

O legado de Behistun perpassa séculos de estudos linguísticos e históricos. Sua metodologia comparativa influenciou a decifração de inscrições aliadas, como as tábuas hititas bilíngues e documentos aramaicos encontrados nos palácios de Persépolis. A partir do modelo de três colunas linguísticas, pesquisadores modernos aplicam técnicas similares em achados arqueológicos de toda a Ásia Menor.

No plano cultural, Behistun consolidou a imagem de Dario I como um rei divinamente escolhido, estabelecendo narrativas que perduraram em historiografia greco-romana. Embora autores clássicos descrevam o império persa de forma genérica, as inscrições revelam detalhes sobre relações de poder e propaganda real, complementando a visão proporcionada pelas obras de Heródoto e outros cronistas.

Conclusão

As Inscrições Trilingues de Behistun permanecem como um marco na história da epigrafia e da linguística histórica. Sua descoberta, decifração e preservação ilustram o valor do trabalho colaborativo entre arqueólogos, linguistas e historiadores. Além de enriquecer nosso entendimento sobre o Império Aquemênida, Behistun serve de exemplo para futuras descobertas cuneiformes, inspirando métodos de registro, documentação e interpretação de inscrições em contextos multiculturais.

Para ampliar seus estudos, considere consultar outras análises comparativas de textos antigos, disponíveis em artigos como Astronomia na Mesopotâmia Antiga, explorando como registros científicos complementam as epígrafes políticas. E, claro, mantenha em sua biblioteca obras especializadas e fac-símiles digitais para aprofundamento.

Boa leitura e boas pesquisas!


Arthur Valente
Arthur Valente
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