Medicina na Mesopotâmia Antiga: práticas médicas e tratamentos

Explore as práticas médicas na Mesopotâmia Antiga, diagnósticos, tratamentos e o legado dos profissionais de saúde desse berço da civilização.

Desde os primórdios da civilização, as sociedades mesopotâmicas se destacaram não apenas pela criação da escrita, mas também pelo desenvolvimento de práticas médicas avançadas para a época. Na antiga Mesopotâmia, a saúde e a doença eram compreendidas como resultado de fatores naturais e sobrenaturais, e tratadas por dois tipos principais de profissionais: os asû (médicos-herbalistas) e os âšipu (exorcistas-curandeiros). Para quem busca aprofundar-se na história da medicina antiga, há opções de leitura especializada, como guias de história da medicina mesopotâmica disponíveis na Amazon, que trazem detalhes sobre tábuas cuneiformes e remédios tradicionais.

O Contexto Histórico da Medicina Mesopotâmica

A Mesopotâmia, território que compreende hoje o Iraque e partes da Síria e Turquia, foi lar de culturas como os sumérios, acadianos, babilônios e assírios. Nessas sociedades, a medicina se desenvolveu dentro de complexos sistemas religiosos e jurídicos. O Código de Hamurabi, por exemplo, contém cláusulas específicas sobre responsabilidade médica e penas para erros de diagnóstico ou tratamento. Esse conjunto legal ajudou a profissionalizar o cuidado à saúde e estabeleceu padrões éticos para os praticantes. No entanto, a visão de doença era dual: ao mesmo tempo em que se estudava sinais físicos, acreditava-se que espíritos malignos e deuses podiam causar enfermidades.

Os Profissionais da Saúde: Asû e šipu

Asû: os médicos-herbalistas

Os asû eram considerados médicos práticos, responsáveis por empregar substâncias vegetais, minerais e animais para tratar diversos males. Seu conhecimento baseava-se em receitas coletadas ao longo de gerações e registradas em tábuas de argila. Eles preparavam pomadas, ungüentos e infusões, usando ingredientes como cebola, alho, mirra, enxofre e até ossos de animais. Muitas dessas fórmulas tinham aplicação tópica para feridas ou eram administradas por via oral para febres e dores abdominais.

šipu: exorcistas e curandeiros espirituais

Já os âšipu combinavam prática médica com rituais mágicos. Considerados especialistas em combater causas sobrenaturais de doença, usavam encantamentos e invocações de deuses para expulsar demônios que, segundo a crença, se alojavam no corpo do paciente. Esses rituais podiam incluir leitura de signos, amuletos e entoação de hinos. A atuação conjunta de asû e âšipu demonstra como a medicina mesopotâmica conciliava o natural e o espiritual.

Diagnóstico e Métodos de Avaliação

Observação clínica e sinais

O diagnóstico mesopotâmico envolvia uma observação detalhada do paciente: exame de pulso, análise da urina e inspeção de feridas. Os médicos registravam alterações na cor, cheiro e consistência dos fluidos corporais, acreditando que essas características revelavam o estado interno do organismo. Essas práticas têm paralelo com técnicas modernas, evidenciando um surpreendente rigor na observação clínica para a época.

A influência do sobrenatural

Apesar do rigor observacional, muitos diagnósticos mesclavam sinais físicos com interpretações sobrenaturais. Um sintoma comum, como dor de cabeça ou febre, podia ser atribuído a um espírito maligno ou a uma punição divina. Para confirmar a causa, consultava-se um oráculo ou realizavam-se inspeções de fígado de animais sacrificados, que serviam como modelo anatômico e semiótico.

Tratamentos e Remédios

Remédios à base de plantas e substâncias naturais

As fórmulas herbais mesopotâmicas eram amplamente documentadas. Misturas de cebola, alho, sálvia, endro e mirra eram usadas para infecções de pele, enquanto infusões de túbera e cenoura-atíria tratavam distúrbios gastrointestinais. Algumas receitas incluíam substâncias mineras como enxofre e sal-gema. Para quem deseja mergulhar em receitas tradicionais, há compilados de remédios mesopotâmicos à venda na Amazon, que reúnem esses antigos tratamentos com explicações detalhadas.

Técnicas cirúrgicas e procedimentos

Embora menos frequentes, procedimentos cirúrgicos eram realizados. As tábuas relatam drenagem de abscessos, cauterização e até trepanação craniana — perfuração de crânio para aliviar pressão ou expulsar espíritos malignos. Instrumentos de bronze e obsidiana, semelhantes a bisturis, eram usados com certa precisão. Após a intervenção, aplicavam-se cataplasmas e pomadas cicatrizantes à base de argila e essências aromáticas.

Textos Médicos e Registros Escritos

O papel dos escribas na transmissão do conhecimento

A transmissão do saber médico dependia dos escribas, que registravam receitas e procedimentos em tábuas de argila. As escolas de escribas na Mesopotâmia eram centros de ensino onde se aprendia cuneiforme e se decoravam dezenas de receitas, encantamentos e diagnósticos. Esse formato de aprendizado garantia que o conhecimento fosse preservado por gerações.

Tratados médicos e tábuas cuneiformes

Foram encontrados milhares de tábuas médicas em cidades como Nippur, Marduk e Assur. Esses documentos abrangem desde diagnósticos detalhados até fórmulas de remédios e instruções de rituais mágicos. Alguns fragmentos incluso registram comentários de pacientes e resultados de tratamentos, oferecendo um panorama rico da prática clínica mesopotâmica.

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Aspectos Legais e Éticos da Medicina

Cláusulas do Código de Hamurabi

O Código de Hamurabi dedicou artigos ao exercício da medicina, estipulando honorários e penalidades. Por exemplo, se um médico causasse a morte de um nobre paciente, sua mão seria cortada; se o paciente fosse um escravo, a punição se limitava à indenização em prata ao dono do escravo. Essas disposições mostram a importância atribuída à responsabilidade profissional.

Responsabilidades e punições

Além das penalidades severas, esperava-se que o médico fosse habilidoso e honesto. Erros graves podiam resultar em compensações financeiras, enquanto curas bem-sucedidas eram recompensadas com presentes e reconhecimento público. A regulamentação criou um ambiente no qual a prática médica demandava rigor técnico e ético.

Legado da Medicina da Mesopotâmia Antiga

As contribuições mesopotâmicas influenciaram culturas subsequentes, como a egípcia, grega e persa. O uso de plantas medicinais, o registro clínico em templos e o dualismo entre causas naturais e sobrenaturais foram incorporados em diversas tradições. A tradição de escrever receitas em tábuas de argila é hoje comparável ao desenvolvimento dos primeiros herbários e tratados médicos na Idade Média européia.

Conclusão

A medicina na Mesopotâmia Antiga revela uma sociedade que buscava equilibrar ciência e fé no cuidado à saúde. Os profissionais asû e âšipu trabalhavam em conjunto, combinando observação clínica, uso de substâncias naturais e rituais mágicos. A regulamentação pelo Código de Hamurabi e a escrita de tábuas cuneiformes garantiram a transmissão e a evolução dessas práticas. Estudar essa rica tradição é entender as raízes do cuidado médico ocidental e apreciar o legado de um dos berços da civilização.


Arthur Valente
Arthur Valente
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